O que tem nos impedido realmente de encontrar satisfação em Deus?
O terceiro obstáculo bloqueia o nosso acesso ao benefício número 3: encontrar satisfação em Deus.
O Senhor deseja que encontremos somente nele nossa satisfação, em vez de perdermos tempo e nos esforçarmos em vão por coisas que não podem nos satisfazer. Mas quando olhamos para outras fontes de satisfação, somos culpados de idolatria.
Conteúdo deste artigo. |
---|
O livro de Isaías contém uma das mais poéticas e graciosas expressões de graça de todas as Escrituras Sagradas:
“Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, com-prem vinho e leite sem dinheiro e sem custo”. (Isaias 55:1)
Ao fim desse convite, no versículo seguinte, Deus faz a pergunta que assombra todas as gerações de descendentes de Adão: “Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão, e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz?”.
Em seguida, como um pai frustrado e determinado a se fazer entender pelos filhos, ele diz:
“Escutem, escutem-me, e comam o que é bom, e a alma de vocês se deliciará com a mais fina refeição” (v. 2).
Satisfação plena com o melhor!
Acredito que a prescrição divina para aqueles que têm sede e fome interior que não conseguem saciar esteja contida em Isaías 55:6. Os que se encontram espiritualmente sedentos e famintos só precisam fazer isto: “Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está perto”.
Acredito que Deus gera e atiça certa insatisfação em todas as pessoas por uma ótima razão. De acordo com 2 Pedro 3:9, Deus não deseja que ninguém pereça. Pelo contrário, ele quer que todas as pessoas venham a se arrepender.
O Senhor nos dotou de vontade para que pudéssemos escolher entre aceitar e não aceitar seu convite. Contudo, Deus também nos criou deliberadamente com uma necessidade que só ele pode satisfazer.
Você já percebeu que uma das experiências humanas mais comuns é a incapacidade de se sentir completamente satisfeito? Infelizmente, a salvação, vista isoladamente, não supre essa necessidade por completo. Muitos se aproximam de Cristo por causa de sua busca por alguma coisa da qual sentem falta; mesmo depois de receber a salvação, elas saem por aí procurando mais satisfação.
Os cristãos podem se sentir miseravelmente insatisfeitos se aceitarem a salvação de Cristo e rejeitarem a plenitude de um relacionamento diário. Deus nos oferece muito mais do que geralmente escolhemos aproveitar.
A insatisfação não é uma coisa tão ruim. É divina. Ela só se torna algo terrível quando não permitimos que ela nos conduza a Cristo. Deus quer que encontremos a única coisa que verdadeiramente saciará nosso coração sedento e faminto.
Perceber como Deus deseja que encontremos satisfação genuína nele nos ajuda a descobrir o terceiro principal obstáculo em nossa estrada rumo à liberdade: buscar satisfação em outras coisas. Deus deu um nome a essa prática que que eu estava despreparada para ouvir: idolatria. Depois de muita e profunda meditação, percebi que o rótulo faz todo o sentido, não importa quão ríspido possa parecer. Qualquer coisa que tentemos colocar em um lugar ocupado por Deus constitui um ídolo.
Insatisfeitos com a mediocridade
Para seguir adiante na estrada que leva à liberdade, precisamos remover o obstáculo da idolatria. Começamos reconhecendo essa barreira como adoração de ídolos, mas é possível que encontremos dificuldade para removê-la. Os primeiros dois obstáculos no caminho da liberdade — incredulidade e orgulho — podem ser removidos de modo eficaz pelo exercício da escolha: podemos optar por crer em Deus e por nos humilharmos diante dele.
Não estou tentando minimizar a dificuldade, mas sugerindo que as primeiras duas barreiras são derrubadas por volição (vontade). A remoção de alguns ídolos em nossa vida (coisas ou pessoas que colocamos no lugar de Deus) pode exigir um trabalho muito prolongado. Há aqueles que ocupam esse lugar há muitos anos, e somente pelo poder de Deus podem ser retirados. Precisamos começar a remover os ídolos com a opção de reconhecer sua existência e admitir que são incapazes de nos satisfazer.
A nação de Israel lutou muito com o pecado da idolatria. Vimos alguns dos resultados na vida de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. No capítulo 2, Isaías registra o que viu quando olhou para Judá e Jerusalém. Essa passagem se assemelha assustadoramente com certos países mais abastados. Ele diz o seguinte a respeito do povo de Israel:
“… eles se encheram de superstições dos povos do leste, praticam adivinhações como os filisteus e fazem acordos com pagãos. Sua terra está cheia de prata e ouro; seus tesouros são incontáveis. Sua terra está cheia de cavalos; seus carros não têm fim” (Is 2:6-7).
Nas primeiras palavras do versículo 6, Isaías afirma: “Certamente abandonaste o teu povo…”. O profeta chegou à conclusão de que não viu nenhum sinal da presença de Deus ali. O Senhor havia prometido não abandoná-los, e cumpriu sua palavra. No entanto, onde o pecado se multiplica, Deus pode, com certeza, reduzir a presença do Espírito Santo e retirar praticamente todos os sinais. Em determinados períodos de minha vida marcados pelo pecado, passei por essa experiência de não perceber os sinais da presença de Deus.
Tudo foi oferecido à nação de Israel, e mesmo assim ela se recusou a receber e ser saciada. O povo trocou as coisas que preenchem o coração pelas que enchem os olhos. Isaías 44:10 nos lembra que os ídolos de uma pessoa não são de proveito algum. Na verdade, o versículo seguinte afirma que os ídolos, no fim das contas, só colhem vergonha.
Esse capítulo nos fornece vários vislumbres da capacidade de destruição que esses ídolos possuem. Por exemplo, veja o versículo 12:
“O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço. Ele sente fome e perde a força; passa sede e desfalece”.
As pessoas podem se envolver tanto com seus ídolos a ponto de não prestar mais atenção às próprias necessidades físicas. O versículo 13 nos revela que os ídolos também podem assumir a forma humana:
“O carpinteiro […] o faz na forma de homem, de um homem em toda a sua beleza, para que habite num santuário”.
Podemos aplicar isso literalmente. Todas as pessoas, em algum momento da vida, exaltaram alguém, colocando-o em um lugar que deveria ser ocupado apenas por Deus.
Ídolos que adoramos em busca de satisfação
Mesmo depois de tanta idolatria, no versículo 21 Deus promete: “… eu não o esquecerei”. A misericórdia divina é indescritível, não acha? Apesar de o povo de Deus ter se voltado aos ídolos, o Senhor varreu para longe as ofensas de seus filhos como se fossem uma nuvem, e seus pecados como a neblina da manhã. Ao confrontar alguns ídolos que adoramos em nossa busca por satisfação, jamais devemos duvidar da misericórdia do Senhor. Ele só pede uma coisa: “Volte para mim, pois eu o resgatei” (v. 22).
Consegue ver o laço forte que une nossa busca por satisfação e a adoração de ídolos? O vazio que Deus criou em nossa vida para ele mesmo preencher exigirá constante atenção. Buscamos desesperadamente por algo que nos satisfaça e preencha os espaços vazios. Nosso anseio por esse preenchimento é tão forte que, quando alguma coisa ou alguém parece suprir nossa necessidade, sentimos uma fortíssima tentação de prestar adoração.
Em minha opinião, um dos versículos mais provocadores de Isaías 44 é o 20. Leia com muita atenção:
“Ele se alimenta de cinzas, um coração iludido o desvia; ele é incapaz de salvar a si mesmo ou de dizer: ‘Esta coisa na minha mão direita não é uma mentira?’”.
Uma forte convicção toma conta de mim. Por quantas vezes me alimentei de cinzas, em vez de me banquetear na palavra de Deus vivificadora? Quantas vezes meu coração iludido me conduziu ao erro? Por quantas vezes tentei salvar a mim mesma?
Eu poderia colocar o rosto no chão neste momento e louvar Deus por toda a eternidade por finalmente me despertar para dizer: “Esta coisa na minha mão direita é uma mentira”. Posso me lembrar de uma coisa em particular à qual me apeguei praticamente com a própria vida. Também me recordo do momento angustiante em que Deus abriu meus olhos para enxergar a mentira na qual eu acreditava. Chorei por vários dias.
A princípio, eu achava que aquela mentira era uma coisa boa. Meu coração, deturpado na juventude, havia me iludido. Embora não percebesse na época, com o tempo passara a me curvar e adorar aquilo. Meu único consolo em minha idolatria foi finalmente permitir a Deus livrar minhas mãos; desde então, até onde sei, elas só agarraram as do Senhor.
Infelizmente, costumo aprender as coisas da pior maneira possível. Sim, mergulhei até as profundezas antes de descobrir a satisfação. Oro para que não me acomode com nada menos até o fim de meus dias. Tenho plena noção de que Satanás lançará ídolos o tempo todo diante de mim. Espero nunca me esquecer de que posso cair novamente.
Não importa a que você tem se apegado para proporcionar satisfação: se não é a Cristo, então é uma mentira. Ele é a Verdade que nos liberta.
Se neste momento você está se prendendo a alguma coisa em seu anseio por satisfação, será que estaria em condições de admitir que não passa de uma mentira? Mesmo que se considere incapaz de se livrar disso por enquanto, acha que poderia apresentar esse objeto de idolatria diante do Senhor — talvez erguendo sua mão fechada como um simbolismo — e confessar que se trata de um ídolo? Deus não condena você; ele está chamando.